Com 17 anos a Margarida parecia ter tudo – uma família feliz, uma casa grande, uma vida folgada com férias regulares e viagens por todo o mundo, boas notas com acesso garantido à melhor Faculdade na área que pretendia. Era uma menina bonita, educada, sempre pronta a ajudar e a agradar.
Quando nos procurou, a Margarida queria aprender a gerir a sua ansiedade. O que descobrimos ao longo do trabalho de psicoterapia foi que por trás de portas fechadas, a vida da Margarida era uma luta silenciosa. Ela era a filha mais nova de uma família onde o pai era excessivamente crítico, verbalmente agressivo e com um temperamento explosivo.
Desde tenra idade, a Margarida era alvo das palavras cruéis do pai, que constantemente a menosprezava, dizendo que ela era inútil, estúpida e nunca seria suficientemente boa em nada. O pai ridicularizava os seus sonhos e conquistas, minando a sua autoestima a cada oportunidade. A Margarida vivia em constante medo de errar e a sua ansiedade crescia à medida que tentava evitar as explosões de raiva do pai. Na escola, a Margarida era uma criança tímida e introvertida. Tinha dificuldade em fazer amigos e frequentemente sentia-se isolada. Esforçava-se ao máximo para agradar aos outros, mas nunca se conseguia libertar das feridas profundas que sua infância tinha deixado.
Com a psicoterapia, a Margarida compreendeu o impacto da violência psicológica na sua vida. A Margarida aprendeu a reconstruir a sua autoestima, a definir limites saudáveis e a superar o trauma da sua infância. Com o tempo, começou a criar relacionamentos mais saudáveis e a descobrir a sua própria força interior. A história de Margarida é um exemplo do impacto profundo da violência psicológica no seio familiar.
O que é a violência psicológica?
A violência psicológica, também conhecida como abuso moral, é uma forma de violência que ocorre quando uma pessoa ou grupo de pessoas utiliza palavras, gestos, comportamentos ou ações para causar danos psicológicos, emocionais ou sociais a outra pessoa. Diferente do abuso físico, o abuso moral não envolve agressões físicas diretas, mas sim a manipulação, humilhação, intimidação, ameaças, críticas constantes, insultos, ridicularização e outras formas de comportamento que visam desvalorizar, controlar ou dominar a vítima.
Em que contextos pode ocorrer a violência psicológica?
O abuso moral pode ocorrer em diversos contextos:
- relacionamentos pessoais
- ambiente de trabalho
- escola
- família
- ou qualquer outro ambiente onde haja interação social.
Quais as consequências do trauma por abuso moral ou violência psicológica?
O trauma por abuso moral pode ter consequências significativas para a saúde mental e emocional da pessoa afetada, que podem variar de leves a graves, dependendo da gravidade e duração do abuso.
- Baixa autoestima: O abuso moral pode minar a confiança e a autoestima da pessoa, fazendo com que ela se sinta inadequada, insegura e sem valor.
- Ansiedade e depressão: O abuso moral pode levar ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão. A pessoa pode experienciar sintomas como ataques de pânico, preocupação excessiva, tristeza persistente, perda de interesse em atividades antes apreciadas e dificuldade em dormir.
- Isolamento social: O abuso moral pode levar a pessoa a se afastar de amigos, familiares e atividades sociais. A pessoa pode-se sentir envergonhada, com medo de julgamento ou acreditar que não merece o apoio ou a companhia de outras pessoas.
- Problemas de relacionamento: O abuso moral pode afetar negativamente os relacionamentos interpessoais. A pessoa pode ter dificuldade em confiar nos outros, estabelecer limites saudáveis e comunicar de forma assertiva.
- Transtorno de stress pós-traumático (TSPT): Em casos mais graves, o trauma por abuso moral pode levar ao desenvolvimento de TSPT. Isso ocorre quando a pessoa continua a experienciar sintomas de stress traumático, como flashbacks, pesadelos, hipervigilância e evitação de situações que lembrem o abuso.
O caso especial do abuso moral no seio familiar
O abuso moral no seio familiar pode ter consequências devastadoras para todos os membros da família envolvidos. Essas consequências podem afetar tanto as vítimas diretas do abuso quanto as testemunhas do comportamento abusivo. Algumas das consequências comuns do abuso moral no ambiente familiar incluem:
- Danos emocionais: O abuso moral pode causar danos emocionais profundos em todos os membros da família. As vítimas podem experienciar baixa autoestima, ansiedade, depressão, medo, culpa e vergonha. As testemunhas do abuso também podem sofrer com sentimentos de impotência, confusão e culpa por não poderem intervir ou proteger a vítima.
- Problemas de relacionamento: O abuso moral pode prejudicar os relacionamentos familiares, levando a um ambiente de desconfiança, hostilidade e falta de comunicação saudável. Os membros da família podem ter dificuldade em estabelecer vínculos afetivos saudáveis, expressar emoções de forma adequada e estabelecer limites saudáveis.
- Ciclo de abuso: O abuso moral no seio familiar pode criar um ciclo de abuso, onde as vítimas podem repetir o comportamento abusivo que aprenderam, perpetuando o ciclo para as gerações futuras. Isso pode resultar em um ambiente familiar tóxico e prejudicial.
- Impacto na saúde mental: O abuso moral pode levar ao desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtornos de ansiedade, depressão, transtorno de stress pós-traumático (TEPT) e até mesmo ideias suicidas. O stress crónico causado pelo abuso pode ter um impacto negativo na saúde física e emocional de todos os membros da família.
- Isolamento social: O abuso moral pode levar ao isolamento social dos membros da família, pois eles podem se sentir envergonhados ou com medo de buscar ajuda ou compartilhar sua situação com outras pessoas. Isso pode resultar em uma falta de apoio social e dificuldade em buscar recursos e suporte necessários.
Como superar o trauma por violência psicológica (ou abuso moral)?
É importante destacar que cada pessoa pode reagir de maneira diferente ao trauma por abuso moral e que a ajuda profissional, como psicoterapia e hipnoterapia, é fundamental para lidar com as consequências do abuso moral, ajudar na recuperação e minimizar as consequências negativas deste trauma.